Repetidas vezes temos colocado que os quatro anos de mandato do Bolsonaro a frente da presidência da república para além de tantos absurdos serviu para empoderar mais ainda o que de mais reacionário temos neste país: os latifundiários. Depois de 40 anos estão dando vida a velha União Democrática Ruralista-UDR, criada na década de 80 pelo atual governador do Estado de Goiás, agora com o nome de “Invasão Zero”.

Na época da criação da UDR o mando era o governo da ditadura, os generais apoiados por civis reacionários e oportunistas que até hoje tem voz de comando no parlamento federal, estaduais e municipais, nos postos dos executivos dos três entes da federação, onde aparecem os Barbalhos, Calheiros, Magalhães, Liras, e outros portadores de poder de mando no judiciário, latifundiários e empresários, parte da burguesia a serviço dos interesses imperialistas.

A ofensiva de latifundiários contra camponeses, indígenas e quilombolas que havia se intensificado nos quatro anos de Bolsonaro, se manteve em alta no ano de 2023 e começa 2024 mostrando que poderá ser ainda mais forte e exterminadora, sem que os governos, federal e estaduais, tomem posições reais de enfrentamento aos grupos organizados de latifundiários e pistoleiros fortemente armados.

Os latifundiários se tornam fortes porque sempre contaram com apoio do Estado através de seus instrumentos de coerção: polícias e judiciário. Isto se explica, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, pela composição dos grupos políticos que sequestram os Estados serem formados de latifundiários ou aliados a latifundiários.

Vejamos as situações dos governadores de três Estados com maior incidência de assassinatos de indígenas, camponeses e quilombolas nos últimos dois anos, Pará, Bahia e Maranhão, todos latifundiários. Estados com maiores índices de grilagem de terras, desmatamento, trabalho escravo, degradação ambiental e expansão da quantidade de pobres e miseráveis. Todos muito bem acobertados pelo governo federal, na era das falácias.

O Comitê de Solidariedade à Luta pela Terra, no Maranhão, tem denunciado com freqüência os conflitos gerados pela grilagem de terras naquele Estado, principalmente o conflito que já teve como resultado o assassinato de cinco camponeses na Campina, próximo a Vila Vilela, no Vale do Gurupi, sem que as autoridades tomem qualquer iniciativa diante das inúmeras denúncias feitas pelos movimentos sociais.

No início de janeiro camponeses na luta por conquistar terras são encurralados por policiais, latifundiários e seus capangas fortemente armados, em Parauapebas, no sudeste do Pará. Situação que vem se repetindo desde o segundo semestre de 2023 nos municípios de Canaã dos Carajás, Sapucaia e Xinguara, todos no Pará. No dia 21 de janeiro, indígenas Ka’aporTuxa Ta Pame, são alvejados por pistoleiros em emboscada, no Maranhão. No mesmo dia 21, indígenas Pataxó são baleados e assassinados por latifundiários no sul da Bahia.

O ataque aos indígenas na Bahia, foi organizado e amplamente divulgado em redes sociais, com fotos dos patrocinadores e apoio da polícia, como mostram vídeos divulgados. Veja o anúncio aos ataques: “O Movimento Invasão Zero, de forma ordeira, segura e pacífica, convoca em caráter de urgência, todos os produtores rurais, agricultores, comerciantes e proprietários em geral a comparecerem amanhã, dia 21 de janeiro de 2024, ás 10:00 horas, na ponte do rio Prado para ação de reintegração a fazenda invadida do Sr. Américo Almeida”.

Diante dos fatos os governos estaduais não manifestaram nenhuma ação de enfrentamento aos latifundiários. O Governo Federal enviou ministros para amortecer a luta e garantir a defesa dos grileiros de terras públicas. No caso da Bahia a Ministra dos Povos Indígenas foi ao local para dizer que a saída será a demarcação de terras, porém nenhuma ação enérgica contra os assassinos foi tomada e que ainda debocham pousando para fotos.

Os fatos demonstram que há uma grande ofensiva de latifundiários apoiados por governos para assassinarem camponeses, indígenas e quilombolas, em defesa da grilagem de terras Brasil a fora. E que só poderá ser enfrentada com a contraofensiva a ser desencadeada pelos deserdados da terra, com apoio de grandes movimentos de massas.

Declaramos nossa solidariedade aos povos sob armas, às famílias que perderam parentes nesta guerra, repudiamos os cercos e assassinatos no campo e nas cidades e nos colocamos a disposição para o desencadeamento da contraofensiva necessária e com urgência, juntamente com todos aqueles que diuturnamente lutam em defesa de seus e direitos.

29 de janeiro de 2024
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