No início da década de 1980 o governo da ditadura militar concedeu à Companhia Vale do Rio Doce, hoje Vale S.A, os direitos sobre uma área de extensão de 411 mil hectares de terra, na região de Carajás. Área esta depois transformada, por interesse da Vale, em Floresta Nacional de Carajás, com uma pequena parte pertencente ao município de Canaã dos Carajás e a maior parte ao município de Parauapebas, onde estão encravadas as maiores jazidas de ferro saqueadas desde 1985 pela Vale, nas serras Norte e Sul. Na Serra Sul está situado o Projeto S11D, com extração do minério de ferro desde 2017, e onde estão situadas as maiores jazidas de ferro a serem exploradas nas próximas décadas.

Em 1985, o GETAT-Grupo Executivo de Terras do Araguaia/Tocantins, com o intuito de formar um cinturão de proteção aos 411 mil hectares, cria ao seu entorno o Projeto de Assentamento Carajás I, II e III, com capacidade para assentar 5.000 famílias em lotes de 50 hectares, mas que encerra o assentamento em pouco mais de 1.000 famílias assentadas, a outra parte da área é regularizada em nome de pequenos e médios fazendeiros, muitos migrantes que já tentavam a sorte no município de Xinguara. Várias destas famílias de migrantes vão construir a Vila Racha Placa. No processo da luta 17 famílias conquistam uma área próxima ao Racha Placa que sob pressão o INCRA-Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária a transforma em Projeto de Assentamento com a denominação de Sol Nascente.

A partir do ano 2000 a Vale passa a atuar com a implantação de projetos de extração mineral fora dos 411 mil hectares, com a implantação do Projeto Sossego, no município recém criado, Canaã dos Carajás. Nesta dinâmica a empresa, com apoio do Estado, destrói a vila do Sossego onde havia funcionado um grande garimpo de ouro e ali residiam dezenas de famílias, e se apropria de 130 lotes de camponeses do Projeto de Assentamento Carajás II e III, sem consulta ao INCRA, desconsiderando a legislação e sem que este órgão apresente qualquer oposição.

Ainda nos primeiros cinco anos da década de 2000, a empresa se apropria de mais lotes de assentados para implantação do projeto Níquel do Vermelho, não implantado e recentemente vendido os direitos à uma empresa estrangeira. Apropria-se de mais terras para implantação do ramal ferroviário, para implantação da logística do projeto S11D, incluindo área para depósito de rejeitos, conformando um total de quase 30.000 hectares, causando um brutal impacto na produção de alimentos que era feito por camponeses, pequenos e médios proprietários, transformando a sociedade local de auto-sustentável em dependentes de produtos alimentícios importados. No rastro de apropriação se inclui o Projeto de Assentamento Sol Nascente.

Desde muito cedo a Vale atua na região sob a proteção jurídica e policial do Estado e com a contratação de empresas de segurança particular denominados de “guardas patrimoniais”, sob o discurso de defesa do meio ambiente. São guardas que atuam com a mais brutal truculência que se possa imaginar, que se acham no direito de ameaçar, humilhar, bater e prender qualquer cidadão ou cidadã que sob sua compreensão estejam ameaçando os interesses da empresa. São centenas de pessoas que tem algo a contar sobre o que já sofreram com atos brutais cometidos por tais guardas da Vale.

Agora, parece que a Vale se afasta um pouco do trabalho sujo e transfere a um grupo de mercenários constituído no processo de dominação dos territórios em Canaã dos Carajás. Todas as áreas que a empresa se apropriou e que não serão usadas em breve são concedidas, em forma de comodato, a fazendeiros, empresários e políticos de Canaã dos Carajás. Estes por sua vez, os mercenários, farão o trabalho de “defesa” das áreas da Vale que estão por eles sendo usadas para criação de gado. Tal situação intensifica os conflitos entre a população local e aumenta a violência no campo.

Bastou um grupo de famílias sem terra, sem trabalho e sem renda, constituídos pela lógica da mineração, ocuparem uma área apropriada pela Vale, a Sol Nascente, para gerar uma gritaria geral dos mercenários, encabeçados pelo Sindicato Rural de Canaã dos Carajás (sindicato dos fazendeiros), sendo um dos alarmistas o ex-prefeito de Canaã dos Carajás, o senhor Jeová. Vejam os discursos: “estamos aqui para dar apoio aos policiais que vão fazer a reintegração de posse”, “o sindicato convoca todos filiados e amigos de Canaã e Parauapebas”, “não vamos aceitar invasão de propriedade em Canaã e no Brasil”.

É necessário que os alarmistas, mercenários, apresentassem uma lista constando quem ocupa as áreas apropriadas pela Vale, qual o tamanho destas áreas e quantas cabeças de gado são criadas nestas áreas. É preciso que a mineradora Vale apresente quais os critérios para utilização dessas áreas e, como se trata de áreas férteis, explique porque não pode ser utilizada por camponeses para produção de alimentos.

Nós, das Brigadas Populares, viemos declarar nossa solidariedade a todas famílias sem terra ou com pouca terra que necessitam de condições para viver nesta região dominada pelos latifundiários, pelas mineradoras e o garimpo considerado ilegal. Conclamando a todos movimentos sociais, professores, estudantes e demais democratas, também apoiarem estas famílias e reafirmar que o caminho é a tomada de terras para trabalhar, pois ninguém come minério.

Mátria Livre!
Venceremos!


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