Na manhã do dia 12 de abril do ano de 1972, as reacionárias Forças Armadas sob o comando do Exército Brasileiro, serviçal do imperialismo norte-americano, confirmaram a presença de organização revolucionária na região Araguaia/Tocantins. A confirmação se deu após alcançarem um acampamento, de um dos destacamentos, às margens do rio Araguaia, no município de São João do Araguaia.
Esta região, na parte sudeste, era dominada pela oligarquia dos castanhais que ocupava uma área de 1,5 milhão de hectares de terras devolutas apropriadas com o genocídio de indígenas e tomadas de pequenos apossantes indefesos, com o direito concedido pelo Estado para extração da castanha-do-pará, principal produto que possibilitava acumulação econômica dos oligarcas com a exploração da força de trabalho de castanheiros, tropeiros e barqueiros.
O governo militar havia traçado para a região amazônica um plano de implantação de enormes infraestruturas para possibilitar a penetração e a lógica da expansão do Capital para fins de implantação de grandes projetos agropecuários e saque das exuberantes reservas minerais. E na região do Araguaia/Tocantins os americanos já haviam identificado o fabuloso potencial mineral no que vai se tornar a província mineral de Carajás.
No Brasil político, as forças revolucionárias nunca aceitaram o golpe que os militares e a burguesia desencadearam ao longo de nossa história, sempre buscando possibilidades de enfrentamento. As vitoriosas revoluções ocorridas na Rússia(1917), na China(1949) e em Cuba(1959) também inspiravam as lutas por aqui. A experiência brasileira decorre desde a criação do Partido Comunista do Brasil em 1922, o levante popular de 1935 e com a cisão do partido que se dá em 1962, o afastamento do Partido Comunista Brasileiro de Prestes e a reestruturação do Partido Comunista do Brasil.
Desta cisão se forma o grupo que, após cinco anos, colocam suas vidas para servir ao povo e à revolução. O objetivo era derrotar o imperialismo e a ditadura militar a partir do Araguaia. É preciso reafirmar que não se tratava de jovens idealistas ou aventureiros, mas de revolucionários(as) conscientes de que só a luta armada apoiada pelo povo seria capaz de enfrentar e destruir as forças contra-revolucionárias que aterrorizavam o país.
Foram necessárias três expedições das Forças Armadas reacionárias para localizar, assassinar e dar fim aos corpos de 68 bravos combatentes, além de camponeses e indígenas. As operações mobilizaram mais de 20.000 militares do Exército, Marinha, Aeronáutica e da Policia Militar. Faz necessário ressaltar que só conseguiram tal feito, porque contaram com a participação de mateiros e moradores informantes, ameaçados pelos militares. Essa participação não aconteceu de forma mansa e pacífica, mas a partir da opressão contra a população da região.
Mesmo sob a perseguição permanente que se deu após 1974, por milicos cabeças de camarão, liderados pelo major Curió, os posseiros conseguiram se organizar, enfrentar grileiros, pistoleiros, policias civil, militar e federal, e conquistar terra e poderes em suas organizações.
Mesmo sob grande repressão e o assassinato do líder sindical Gringo(1980), que encabeçava a chapa de oposição às eleições do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Conceição do Araguaia, camponeses(as) conquistaram o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Conceição do Araguaia, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Domingos do Araguaia, assim como, a criação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabá.
Uma grande batalha que é iniciada em 1976 na região conhecida como Perdidos, hoje no município de São Geraldo do Araguaia. Os camponeses conquistam a vitória em 1982 quando botaram para correr policiais federais e técnicos do INCRA, inclusive com baixas entre soldados e pistoleiros. As áreas dos castanhais Cuxiu e Almescão, município de São Domingos do Araguaia, são conquistadas quase ao mesmo período. Canaã, Vale da Serra, São Roque, São Jorge, Jussara e outras em Rio Maria e Xinguara. Pau Seco, no município de Marabá, com a valorosa participação do advogado Gabriel Pimenta. A Manutenção de uma célula do Partido Comunista do Brasil, em Rio Maria, sob coordenação do advogado Paulo Fonteles, arrepia os cabelos do major Curió e culmina com o assassinato de João Canuto, seus filhos e Expedito Ribeiro.
Em terras destinadas a latifundiários e grandes mineradoras, nas décadas de 1980 e 1990, com o desmembramento dos municípios, milhares de camponeses e camponesas se forjaram nas lutas, conquistando terras para quase 100.000 famílias de camponesas sem terra, conquistaram em torno de 5.000.000 de hectares de terras no Sul e Sudeste do Pará e criaram muitos sindicatos combativos.
Se forjar nas lutas, enfrentar grileiros, pistoleiros e polícias, com os instrumentos que lhes tornam menos vulneráveis ao poder das armas dos inimigos, construindo autodefesas, nos parece ser um dos legados da Guerrilha do Araguaia. Neste sentido é tarefa de todos revolucionários e democratas, manter vivo a memória das lutas camponesas e da Guerrilha do Araguaia.
Viva as Lutas Camponesas!
Viva a Guerrilha do Araguaia!
Viva a Revolução Agrária!
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