Grilagem de terras, constituição de feudos, faz parte incontestável da história do Estado do Maranhão desde o período colonial. Mas se intensifica agora com a constituição e ampliação de latifúndios sobre terras habitadas por populações tradicionais com registros de ancestralidade que contam 400 anos e por indígenas e camponeses pobres, estes últimos empurrados para a região desde o século XVIII, por conta da seca em vários Estados do Nordeste.
Com a política nefasta do des(governo) da ditadura militar a partir do golpe militar de 1964, milhares de famílias de camponeses foram enxotadas dos Estados do Nordeste enganadas de que a Amazônia seria “terra sem homens para homens sem terra”. Ao mesmo tempo em que a migração destas famílias aliviaria a pressão sobre os latifundiários de seu local de origem a maioria delas viriam servir como força de trabalho para latifundiários que se formavam no sul do Estado maranhense, precisamente nos municípios de Balsas e Riachão, para plantar arroz, criar gado, que depois passaram a plantar soja.
Estes novos latifundiários que se formavam no Estado do Maranhão, depois das famílias, Sarney, Castelo, Cafeteira, e outras, foram gaúchos capitalizados pelo programa da SUDAM-Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia, financiados pelo Banco da Amazônia S.A., com recursos oriundos do FINAM-Fundo de Investimento na Amazônia. Como os gaúchos precisavam de terras surge o intermediário grileiro que vai atuar na região tomando terras de indígenas, quilombolas e camponeses, acobertados por polícias e órgãos estatais voltados para a questão agrária.
Esta política atinge todos Estados da Amazônia principalmente os de maiores interesses dos grupos econômicos nacionais e internacionais como Mato Grosso, Rondônia, Pará e Maranhão, gerando conflitos na luta pela terra e em defesa das terras de direitos de populações tradicionais como extrativistas, e de indígenas, quilombolas e camponeses. De um lado estes povos e do outro lado grileiros, latifundiários, pistoleiros, milícias armadas, policias do Estado, órgãos públicos e os governos locais. Com expulsão dos povos de suas terras, torturas, prisões e assassinatos.
Passadas quatro décadas de opressão, chacinas e massacres cometidos aos povos, com o aquecimento do mercado de terras reascende com maior intensidade, com mais requinte de crueldade, a grilagem, assassinatos, chacinas e massacres de extrativistas,quilombolas, indígenas e camponeses pobres nos mesmos Estados, que muda apenas a alternância de famílias latifundiárias no comando dos governos. No caso do Estado do Pará continua a família Barbalho e no Maranhão o governador é um latifundiário cupincha do ministro do STF, Flávio Dino, cujo nome é Carlos Brandão. Governo que recentemente homologou uma Lei que dá direito a uma pessoa regularizar em seu favor até 2.500 hectares, o que até pouco tempo era de apenas 200 hectares, um grande presente aos grileiros.
Dentre as inúmeras ações de perseguição e assassinatos de extrativistas, indígenas, quilombolas e camponeses pobres está ocorrendo no Estado do Maranhão, no município de Barra do Corda, a 60 Km da sede do município, na comunidade São Francisco uma verdadeira perseguição a 80 famílias de camponeses pobres em que a maioria ocupa a área desde o ano de 2014, sendo que existem pessoas que nasceram no local há 70 anos. Os ataques aos camponeses já levaram a queima de casas, queima de roçados, roubo de pertences e alimentos, e assassinatos. No final de 2023 dois camponeses foram covardemente assassinados por policiais militares, com vários tiros de fuzil, quando retornavam para suas residências depois de um trabalho em uma área de outro camponês.
Toda esta opressão está sendo empregada à velha moda, grilagem com apoio de cartorários, agrimensor, políticos locais, pistoleiros, gerentes de fazendas, órgãos públicos e policiais, como constam em depoimentos de camponeses aterrorizados, ameaçados por grileiros, pistoleiros e policiais. As famílias não se sentem seguras para se deslocarem até a cidade em busca de um atendimento médico ou compra de medicamentos e alimentos, devido as ameaças de pistoleiros e policiais.
Seus aliados próximos são os indígenas Kanela que também tem parte de seu território desmatado supostamente por um gerente do grupo Maratá que se apropriou de milhares de hectares de uma área que faz limite com os indígenas e com a comunidade São Francisco, outros limites se dão com latifúndios provenientes também de grilagens.
Nós, das Brigadas Populares, nos juntamos ao Comitê em Defesa da Luta Pela Terra-Comsolute, ao Movimento das Comunidades Populares – MCP, a UC, ao Coletivo de Estudantes Filhos do Povo da Universidade Federal do Maranhão e a União de Comunidades em Luta-UCL, em solidariedade e apoio à luta e resistência das famílias de camponeses da comunidade São Francisco, aos povos indígenas Kanela, em defesa de seus direitos e em repúdio ao governo do Maranhão que vem dando suporte aos grileiros e pistoleiros para assassinarem e tomarem as terras dos povos. E conclamamos todos movimentos de operários, camponeses, indígenas, quilombolas, extrativistas, estudantes e professores a virem a somar nesta luta.
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