Muitos estão desanimados pelo aniversário de 200 anos da independência do Brasil ocorrer durante o desastroso governo de Jair Bolsonaro. Outros criticam, com razão, de que o Estado soberano nascido em 1822 nunca foi pensado para as maiorias do seu próprio povo, mas como um patrimônio pessoal dos poderosos que desfrutam da riqueza nacional em conluio com interesses estrangeiros.
De fato, o processo de emancipação política do país foi capitaneado pelos desejos de uma elite escravocrata e conservadora, que mantém desde então o povo alienado das grandes decisões nacionais. O silenciamento da participação popular, negra e indígena no processo de independência perdura no Brasil atual, de fome, desemprego e manifestações autoritárias. Nem o mais satírico humorista escreveria a cena da manhã do bicentenário da independência com um desfile militar protagonizado por um Presidente patético que usa a data para falar da sua vida sexual, atacar mulheres e posar ao lado de um empresário corrupto – e tão patético quanto – investigado por financiar milícias golpistas.
Mas, a disputa da história do Brasil e dos símbolos pátrios é justamente o jogo das elites. A necessidade de falsificar o passado, esconder o elemento popular e “privatizar” o verde e amarelo, atando-o ao fascismo, é o capítulo atual de uma longa trajetória de violência daqueles que são vergonhas históricas. Porque o Brasil deles não é nada e nem é reconhecido por ninguém.
No mundo todo, quando se fala em Brasil o que vem à tona são nossas manifestações culturais como o samba, a beleza exuberante de nossa natureza, a amabilidade do nosso trato informal. Tudo isso é o Brasil construído pelo povo, com um pé na aldeia indígena e outro na África, sobrevivendo entre as brutalidades da história, erigindo uma nova civilização ainda em processo de fazimento, aberta ao novo e por isso, mais potente e mais criativa.
Toda a brasilidade construída através dos séculos é fruto de um processo popular de alta complexidade, onde a diversidade e a pluralidade são suas fortalezas. Frente a isso, uma elite racista, segregatória e sádica não tem nenhuma grande contribuição. É um corpo estranho dentro do próprio país. Por esta razão, se envergonham do Brasil real e suas bandeiras verde e amarelas não passam paixão, mas sim, ódio.
O Bicentenário marcará uma nova derrota histórica desse Brazil com z. O verdadeiro Brasil dará, dentro de poucas semanas, um não rotundo ao fascismo que a elite do atraso tenta impor como modelo (des)civilizatório do momento. Um Brasil onde o verde e amarelo signifique o orgulho de todos e não a vergonha de alguns.
Que os dois séculos da independência marquem não um fim, mas o começo de um novo processo histórico que nos permita construir o Brasil real, tendo nosso povo como protagonista. Como disse Darcy Ribeiro, “a utopia brasileira é singela: casa, escola, comida e remédio. Porque a alegria e a originalidade como povo, isto já foi feito”. Nada de cabeça baixa nesse 07 de setembro! O caminho é árduo, mas a segunda e definitiva independência está em nossas mãos. Vamos à vitória, brava gente brasileira!
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