Três anos após o assassinato do herói camponês Arnaldo Delcidio Ferreira, em Eldorado dos Carajás, por covarde pistoleiro a mando de latifundiários, e um ano depois do massacre de Corumbiara(RO), a marcha de centenas de camponeses e camponesas sob a direção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra que se deslocariam até Belém para tentar audiência com o governo do Estado, é barbaramente interrompida. na curva do S, a poucos quilômetros da cidade de Eldorado.
Era um final de tarde do dia 17 de abril do ano de 1996 quando homens, mulheres, adultos e crianças, aguardavam por uma posição do governo sobre a possibilidade do fornecimento do ônibus para continuarem a marcha, são surpreendidos pela chegada de dois contingentes de policiais fortemente armados, um que fechava a estrada que dava acesso rumo à cidade de Marabá e outro rumo a Eldorado. Foram literalmente cercados.
Esta foi a resposta enviada pelo governador do Estado, Almir Gabriel, para que a rodovia fosse desobstruída a qualquer custo. Como não poderia ser de outra forma o brutal encurralamento não foi aceito de forma pacífica pela maioria das pessoas, que se sentiram covardemente traídas e agredidas, e em defesa de seus direitos contrariando as forças agressoras, reagiram bravamente.
Assim foi criado o conflito para o qual a polícia foi orientada e preparada, como em todas intervenções policiais contra qualquer que seja as manifestações do povo na luta em defesa de seus direitos, principalmente camponeses pobres sem terra que tem como única alternativa enfrentar milícias e pistoleiros de latifundiários, as polícias civil, militar, federal e o poder judiciário, para conquistarem um pedacinho de terra apropriadas e cercadas indevidamente pelo latifúndio e mineradoras.
O conflito que foi transformado em massacre brutal e covarde realizado pelos policiais, resultou em dezenas de feridos entre crianças e adultos, muit@s até hoje não recuperados de traumas e lesões, dezenove assassinados de forma cruel, como foi o caso do jovem Oziel Pereira. Oziel, foi tomado vivo das mão de homens e mulheres, por sodados que estavam na carroceria de um caminhão que levou os corpos para a cidade de Curionópolis, e foi assassinado no trajeto.
Mas para tantas chacinas, massacres e assassinatos seletivos ocorridos nos últimos quarenta anos na Amazônia e principalmente nos Estados do Pará e Rondônia, tem uma plausível explicação se levarmos em consideração as formas e conteúdo das ações, e a participação do Estado em todas elas, seja por intervenção direta ou por omissão em defesa da classe trabalhadora.
Desde a intervenção militar a partir do golpe de 1964, com a política de integrar para entregar, com a imposição do Estatuto da Terra e criação de instrumentos de favorecimentos a grandes projetos agrominerais, ficou definido que a região amazônica estava propensa ao saque e não ao seu desenvolvimento respeitando os povos que aqui já viviam e a leva de nordestino que foi enxotada através de propagandas mentirosas de que aqui era “terra sem homens, para homens sem terra”, havendo possibilidades para todos.
Povos da região e chegados do Nordeste passaram a ser considerados inconvenientes para os planos do governo a serviço do latifúndio e do imperialismo, principalmente ianque. Povos da região passaram a resistir às forças opressivas do Estado e os nordestinos passaram a reivindicar seus espaços para os quais foram de forma enganosa, convidados.
Diante das resistências e das lutas travadas por camponeses pobres sem terra, por terra, latifundiários, o imperialismo e o Estado, montaram suas estruturas de repressão para executarem o desempendimento para o desenvolvimento de suas frentes de interesses de saque e de acumulação econômica, que em certos momentos são mais ou menos brutais suas repressões contra os povos.
No caso do massacre de Eldorado camponeses enfrentavam as forças de interesse imperialista representada pela Companhia Vale do Rio Doce, os interesses de antigo latifundiário dos castanhais, da família Pinheiro, os interesses do Estado em atender as ordens dos poderes de quem sempre foi serviçal.
Sentimos pelas inúmeras perdas de heróis e heroínas sofridas durante os últimos quarenta anos, mas sabemos que seus sangues não foram derramados em vão: em suas honras é mantida viva em Rondônia a Batalha de Santa Elina, no sudeste do Pará mantemos o Projeto de Assentamento 17 de Abril nas terras que até o ano de 1996 eram ocupadas pela família Pinheiro, conhecida como castanhal Macaxeira, no Sul e Sudeste do Pará quase cem mil famílias de camponeses conquistaram terras, alguns pistoleiros viraram farelo, e a luta continua, até que latifúndio não mais exista.
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